Mitos podem impedir muitos de procurarem tratamento para depressão

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“Frescura, falta de força de vontade, preguiça, falta de Deus”… Essas são algumas expressões que quem tem depressão já ouviu. E não ajudam em nada, ao contrário, trazem mais culpa a quem tem depressão, uma doença, como as outras mentais, cercada de mitos e estigmas. A falta de conhecimento ou o excesso de preconceitos pode impedir o tratamento da doença que afeta 5,8% da população brasileira, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas Américas, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos das Américas (EUA) em número de pessoas com depressão.

O estudo epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde revela que, nos próximos anos, até 15,5% da população brasileira pode sofrer depressão ao menos uma vez ao longo da vida. A depressão é tão impactante na vida das pessoas, que é a principal causa de anos perdidos por doença, devido à sua natureza incapacitante.

“Quando as pessoas têm qualquer dor, seja no estômago, dente, coluna ou qualquer outro, procura o especialista da área, porque é nítido o desconforto e o quanto aquela dor afeta seu dia a dia. O problema é que muitos pensam que somente a saúde física importa, porque é ela que nos torna funcionais visivelmente em diversas áreas da vida. Só que sabemos que os prejuízos da falta de saúde mental são enormes e nos impossibilitam de viver plenamente por muito tempo se não tratada adequadamente. E, muitas vezes, são os preconceitos e estigmas que impedem a busca por tratamento adequado”, alerta a psicóloga, Bárbara Couto.

Os mitos incluem causas, sintomas, veracidade da doença, idade das pessoas afetadas, vício em remédios, entre outros. O conhecimento sobre a doença e a desmistificação, conscientizando os afetados sobre a importância de buscar tratamento pode salvar vidas. A psicóloga Bárbara Couto traz as informações embasadas em pesquisas e estudos sobre a depressão.

Tristeza e depressão são a mesma coisa?

Hoje, é comum pessoas se dizerem deprimidas em qualquer situação, mas há uma grande diferença entre depressão e tristeza “A tristeza é uma emoção passageira, uma resposta do nosso cérebro a situações específicas. A tristeza tem o objetivo de sinalizar ao nosso cérebro que ele precisa de introspeção, pensar naquela situação que gerou algum tipo de frustração. Já a depressão é um transtorno de humor, que afeta como a pessoa se sente e age. A depressão causa um sofrimento emocional significativo, interferindo na vida diária da pessoa.

Os sintomas da depressão

Entre os sintomas da depressão estão tristeza intensa, perda de interesse em atividades prazerosas, alterações do apetite e do sono, pensamentos de culpa ou de inutilidade, dificuldade de concentração, pensamento de morte e suicídio. “A depressão é uma desmotivação muito grande. A pessoa vai perdendo o sentido das coisas, a vida vai ficando preto e branca e a pessoa começa a ter dificuldade de fazer coisas básicas no dia a dia. Mas, para ter o diagnóstico de depressão, os sintomas têm que ocorrer por pelo menos duas semanas”, enumera a psicóloga.

Irritabilidade é um sintoma da depressão

Não são só adultos e idosos que sofrem com depressão. A irritabilidade é um dos sintomas com depressão, especialmente em adolescente. “Criança e adolescente geralmente respondem à depressão ficando irritados e mais reativos que tristes. É comum confundir esse comportamento com personalidade e com mudanças da adolescência. Isso é ruim porque atrasa o diagnóstico. A pessoa que tem depressão não fica apenas trancada, sem conseguir fazer nada. A maioria das pessoas, antes de chegar nesse nível mais avançado, mais grave, apresenta outros sintomas, como a irritabilidade, o nervosismo, vai deixando devagar de fazer as coisas que gosta, começa a se isolar, vai preferindo ficar sozinho e começa a perder paciência com coisas triviais do dia a dia”, explica Bárbara Couto.

As mulheres são mais propensas a ter depressão

De acordo com o Ministério da Saúde, Estudos mostram a prevalência da depressão ao longo da vida em até 20% nas mulheres e 12% para os homens. Além disso, uma pesquisa da Think Olga, uma organização não-governamental de inovação social, revelou que 7 em cada 10 diagnósticos de ansiedade e depressão eram de mulheres. “As mulheres são mais propensas a ter depressão por conta dos fatores hormonais, dos fatores genéticos e também dos fatores sociais. A gente sabe que a vida é bem mais difícil para a mulher socialmente falando e também é um cérebro que adoece mais em relação à depressão. E mudanças hormonais como a gravidez, o pós-parto, a menopausa também podem aumentar o risco de depressão nas mulheres”, esclarece a psicóloga.

A depressão altera o comportamento das pessoas

A depressão altera profundamente o comportamento da pessoa, afetando as relações pessoais e de trabalho, a produtividade e o lazer. “Geralmente a gente acha que ela virou outra pessoa. Ela pode se tornar uma pessoa “difícil de lidar”, reclamona, chata, pessimista, com um olhar mais negativo. Começa a desenvolver também “preguiça”, falta de vontade de fazer as coisas que antes gostava de fazer. As relações pessoais ficam bem mais difíceis, porque a pessoa com depressão afasta as pessoas dela por conta desse comportamento E, muitas vezes, a pessoa de fora vê só essa fachada da “pessoa difícil de lidar”. Ela não vê a pessoa que está sofrendo e precisando de ajuda”, alerta Bárbara.

Fatores de risco para desenvolver a depressão

Estudos com famílias, gêmeos e adotados indicam a existência de um componente genético no desenvolvimento da depressão. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que esse componente represente 40% da suscetibilidade para desenvolver depressão. “A genética pode levar a pessoa a desenvolver depressão, principalmente quando passa por algumas situações difíceis da vida, como estresse crônico, trauma, doença crônica e incapacitante, problema financeiro, de relacionamento ou trabalho, baixa autoestima e desequilíbrio hormonal. Quando a pessoa não tem repertório para suportar uma situação tão pesada, tão repetitiva, tão traumática, quando o cérebro também não consegue lidar com aquela situação, unindo isso à predisposição genética, pode desenvolver depressão”, explica ela.

Como tratar a depressão

A depressão deve ser tratada com terapia e, muitas vezes, com medicamentos, porque é uma doença que atua no funcionamento do cérebro. Há evidencias de deficiência de substancias cerebrais, chamadas neurotransmissores na depressão. São eles noradrenalina, serotonina e dopamina que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do humor. De acordo com o Ministérios da Saúde, entre 90% e 95% dos pacientes têm remissão total da doença quando se trata adequadamente.

Além do tratamento clássico, é preciso mudanças. “Não há cura, se continua onde se adoeceu. O depressivo precisa enxergar o que causou a depressão e mudar essa situação. É necessário aprender a descansar, ter momentos de lazer, terminar um relacionamento abusivo, ter apoio na maternidade. Geralmente, a terapia vem para ajudar a pessoa a ver com outros olhares aquela situação que ela está vivendo e dar para o cérebro esses repertórios para passar por essa situação”, enfatiza a psicóloga.

Remédio para depressão não vicia e nem sempre é tomado para o resto da vida

Profissionais da saúde esclarecem que antidepressivo não vicia, conforme a crença de muitas pessoas. O mito pode estar ligado ao fato de alguns pacientes, por terem casos muito graves de depressão, precisam manter o uso da medicação por anos. “E nem sempre o remédio precisa ser tomado para o resto da vida. Entendendo a causas da depressão, organizando estratégias, mudando padrão de vida e de pensamento, há possibilidade de uso de medicamento por curto período. Outras pessoas, principalmente as que não fazem terapia, fazem uso de medicamento por muito mais tempo, porque não é olhado o padrão comportamental, o padrão de pensamento, só se trata o sintoma. Por isso a terapia é tão importante quando a pessoa tem depressão,” finaliza a psicóloga Bárbara Couto.

A psicóloga Bárbara Couto

Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.

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